Artigos - Inseminação artificial e Inseminação Artificial em tempo fixo: ferramentas reprodutivas

09 mai 2016

Inseminação artificial e Inseminação Artificial em tempo fixo: ferramentas reprodutivas

A inseminação artificial (IA) foi a primeira grande biotecnologia reprodutiva aplicada ao melhoramento genético dos animais domésticos. Em bovinos é uma técnica bem estabelecida e tem sido implementada em combinação com programas de seleção genética, que incluem testes de progênie e de avaliação de desempenho (BARBOSA 2008).

A utilização e disseminação da técnica tornou-se eficaz por ser simples e econômica em relação a outras biotecnologias reprodutivas empregadas, como a de embriões e a monta natural (Vishwanath 2003). Estudos mostram que a utilização da IA representa, em média, 3% do custo total de geração de um novo animal, pronto para a produção leiteira ou para o ganho de peso. A IA movimenta um mercado de aproximadamente 12,5 milhões de doses de sêmen (Tab. 1), o que representa em torno de 10% do total de fêmeas bovinas aptas à reprodução (Severo, 2015).  O emprego da IA em rebanhos comerciais trás uma série de vantagens como:

Tabela 1. Evolução da inseminação artificial no Brasil com a comercialização de sêmen (milhões de doses), segmentos corte e leite, 2010 – 2015. 


Fonte: ASBIA, 2015

·                     Melhoramento Genético

·                     Controle de doenças

·                     Cruzamento entre raças

·                     Prevenção de acidentes com a vaca

·                     Prevenção de acidentes com o funcionário

·                     Uso de touros incapacitados para monta

·                     Aumento do número de descendentes de um reprodutor

·                     Controle zootécnico do rebanho

·                     Padronização do rebanho

·                     Uso de touros após a morte

·                     Redução da dificuldade em partos

 

Algumas barreiras ainda precisam ser vencidas como a dificuldade para levar a inseminação aos rebanhos criados em condições extensivas, baixa ciclicidade dos animais zebuínos e falhas no diagnóstico do estro (SIQUEIRA et al., 2008; BORGES et al., 2009), cios noturnos (BERTAN; BINELLI; MADUREIRA, 2006), curta duração e puberdade tardia tornaram-se fatores limitantes para o emprego desta biotécnica em bovinos, no Brasil. Nesse contexto é primordial desenvolver formas de conhecer, de controlar e de melhorar os índices reprodutivos (taxa de prenhez, índice de serviço, intervalo entre partos, taxa de natalidade).Uma das formas encontradas para contornar esse problema foi o desenvolvimento de protocolos de indução do estro e sincronização da ovulação para possibilitar a inseminação artificial em tempos pré-determinados (IATF), sem necessidade da observação e identificação de estros para inseminação. (MONTEIRO 2011).

 Esta ferramenta de trabalho permite programas de inseminação envolvendo grande número de animais, que pode ultrapassar as 300 fêmeas inseminadas por dia de trabalho. As principais vantagens da IATF são: inseminação com dia e hora marcados, eliminação da detecção de cio, indução da ciclicidade em vacas em anestro, redução do intervalo entre partos, atingir o objetivo de obter 1 bezerro/vaca/ano, melhor acompanhamento reprodutivo das matrizes, padronização dos lotes de bezerros e racionalização da mão-de-obra.

 

Pontos Críticos:

A seguir veremos alguns pontos importantes para realizar um protocolo de IATF.

1. Higiene na colocação do implante intravaginal (sincrogest)


Figura 1. Inicio da colocação do implante.

IMPORTANTE: Uso de luvas de procedimento e materiais limpos.


Figura 2. Colocação do implante no animal.

IMPORTANTE: Higienização do animal, auxilio para abertura da vulva.


Figura 3 e 4. Posição correta do implante no animal.

IMPORTANTE: O fio de sinalização azul (seta amarela), deve ficar sempre voltado para baixo e o implante deve estar totalmente inserido no vestíbulo da vagina do animal. O ideal é o implante ficar próximo a cérvix, em uma região conhecida como fundo de saco.

Agulhas e seringas:


Figura 5. Seringas e agulhas

IMPORTANTE: Tamanho das seringas: a quantidade de fármaco utilizado é pequena, portanto seringas de graduação menores (3 e 5 mL) são mais precisas. As seringas com rosca são mais seguras no momentos de aplicação.

IMPORTANTE: Tamanho e espessura de agulhas: Alguns fármacos utilizados (ex: sincrodiol, sincroCP) são oleosos, portanto, seringas de medidas 40x12 mm são mais adequadas.

Higiene no momento da inseminação:


Figuras 6 e 7. Inseminação artificial em bovinos

IMPORTANTE: Quando presente o “muco” deve ser avaliado para que a fêmea seja inseminada. O muco límpido, translúcido sempre deve ser o desejável na, porém, em algumas situações pode ocorrer um pouco de sujidade no “muco” oriundos de animais que foram de IATF, porem vale lembrar que este conteúdo pode ser causado apenas por uma reação ao implante intravaginal. Conforme mostra a figura 4, o local em que o implante fica posicionado é anterior a cérvix, portanto, extrauterino.

Descongelamento de Sêmen:

Após a realização de mais de 90 cursos de inseminação artificial e mais de mais de 1500 alunos treinadas, percebemos no Centro de Capacitação para Inseminadores da Ourofino, que um dos grandes problemas que observamos ocorrem no momento de descongelação e montagem do aplicador de sêmen. Assim, alguns pontos importantes merecem destaque.

Organização de material


Figura 8. Organização do material

IMPORTANTE: O mais próximo do animal e casos seja possível a realização de um check list.


Figura 9. Retirada da palheta do botijão de sêmen.

IMPORTANTE: Não levantar a caneca com as palhetas de sêmen no nível da boca do botijão. A mesma deve ser posicionada em torno de 7 cm abaixo e deve ser retirada com auxílio de uma pinça.

Outros pontos importantes referem-se ao tempo de descongelamento (30 seg/palheta média, 20 se/ palheta fina), temperatura (35,5oC), número de palhetas que serão descongeladas (descongelador eletrônico) e identificação do lado a ser utilizado no aplicador caso o mesmo não seja universal.

 

Protocolos de IATF Ourofino:

 

 

Linha reprodutiva Ourofino: 

 

Referências:

ASBIA, Associação Brasileira de Inseminação Artificial. INDEX, 2015.

BERTAN, C.M.; BINELLI, M.; MADUREIRA, E.H. Caracterização do estro de novilhas cruzadas (Bos taurus indicus x Bos taurus taurus) por radiotelemetria. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, São Paulo, v.43, n.6, p.816-823, 2006.

BORGES, L.F.K.; FERREIRA, R.; SIQUEIRA, L.C.; BOHRER, R.C. ; BORSTMANN, J.W. ; OLIVEIRA, J.F.C.; GONÇALVES, P.B.D. Artificial insemination system without estrous observation in suckled beef cows. Ciência Rural, v.39, n.2, mar.-abr., 2009.

Monteiro et al. Estado da arte da inseminação artificial em tempo fixo em gado de corte no Brasil. Rev. Ci. Agra., v.54, n.1, p.89-97, Jan/Abr 2011.

Severo, N, C. História da inseminação artificial no Brasil. Rev. Bras. Reprod. Anim., Belo Horizonte, v.39, n.1, p.17-21, jan./mar. 2015.

SIQUEIRA, L.C.; OLIVEIRA, J.F.C.; LOGUÉRCIO, R.S.; LÖF, H.K.; GONÇALVES, P.B.D. Sistemas de inseminação artificial em dois dias com observação de estro ou em tempo fixo para vacas de corte amamentando. Ciência Rural, v.38, n.2, mar.- abr., 2008.

Vishwanath R. Artificial insemination: the state of the art. Theriogenology, v.59, p.571-584, 2003.

Rafael Rodrigues Correa

Especialista técnico em Reprodução Animal Ourofino

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