Artigos - Bem Estar em Suinocultura

18 fev 2015

Bem Estar em Suinocultura

A população mundial em 1930 era de 2 bilhões de pessoas, em 2010 esse número atingiu a marca de 6,908 bilhões com previsão de 9,6 bilhões em 2050, apontou o relatório da ONU (Organização das Nações Unidas). Acompanhando o desenvolvimento da civilização, a utilização de animais para a produção desempenhou um importante papel visto que, alimentos, vestuário e transporte são obtidos a partir de uma diversidade de espécies. Devido ao crescente consumo de carnes e seus derivados, os animais passaram a ser criados de forma intensiva e, antes mesmo de 1970, esse sistema de produção já estava sob a forma de confinamento (Broom, 2010).

Os princípios relacionados ao bem estar animal (BEA) vem sendo estudados desde 1965 por um comitê formado por pesquisadores do Reino Unido, denominado Comitê Brambell, que desenvolveram uma estrutura como resposta à pressão da população, indignados com os maus-tratos a que os animais eram submetidos em sistema de confinamento, relatado no livro Animal Machines (Máquinas Animais), publicado pela jornalista inglesa Ruth Harrison em 1964 (Ludtke, 2010).

Dentre as espécies confinadas, a suína foi uma das que mais sofreu com o processo de intensificação, levando à mudanças, principalmente, de seu habitat natural, fator este de maior interferência no BEA. Atualmente, os tipos de alojamentos x BEA vêm ganhando mundialmente espaço em diversos tipos de convenções. Broom (1990) definiu que, "O bem estar de um animal é o seu estado em relação às suas tentativas de adaptar-se ao seu ambiente".

Apesar de existirem diversos conceitos sobre o tema, a definição mais utilizada foi elaborada na Inglaterra pelo professor John Webster em 1992, e posteriormente adotado pelo Farm Animal Welfare Council (Conselho de bem estar na Produção Animal). A tese defendida por ele é a de que para avaliar o BEA é necessário que sejam avaliadas diferentes variáveis que possam interferir na vida dos mesmos. Webster (1992) durante seu longo estudo em BEA determinou cinco liberdades inerentes aos animais: a liberdade fisiológica (ausência de fome e de sede); a liberdade ambiental (edificações adaptadas); a liberdade sanitária (ausência de doenças e de injúrias); a liberdade comportamental (possibilidade de exprimir comportamentos naturais, inerentes à cada espécie), e a liberdade psicológica (ausência de medo e de ansiedade) (Grandin e Johnson, 2010) que tem sido adotada mundialmente (Ludtke, 2010).

Atualmente os principais problemas dentro de uma unidade produtora de suínos, como deficiência nutricional, fisiológica ou patológica, podem ser facilmente diagnosticados com investigações de comportamento (Broom, 2010). O comportamento natural dos animais pode ser alterado devido ao estresse de confinamento (isolamento social, ausência de substrato ou enriquecimento, fome, alta densidade, agressão de animais dominantes, mutilação, baixa qualidade do ar) desencadeando estereotipias. A estereotipia é definida como uma sequência relativamente invariável e repetida de movimentos, sem função aparente (Fraser e Broom, 1990). Na suinocultura observam-se comportamentos como, movimentação de mastigação no ar, vocalização, mordidas de caudas ou de objetos, ficar muito tempo deitado, esfregar a cabeça e ainda pressionar o bebedouro sem beber água. 

De acordo com Rauw (1998), quando uma população ou um animal é selecionado para uma alta demanda de produção, muitas vezes não é levada em consideração se estes animais estão preparados a responder de maneira adequada à estas demandas, gerando quadros de estresse (Rauw et. al., 1998).

Dependendo da intensidade do quadro de estresse, os reflexos são diversos, entre eles, produtivo, reprodutivo, entre outros. Para que este quadro afete negativamente a reprodução, é necessário considerar fatores ligados à intensidade do agente estressor, como, a predisposição genética e o tipo de estresse submetido. Além de fatores reprodutivos, o estresse pode afetar a produção, como aumento de incidência de quadros de gastrite, úlceras bem como a qualidade de vida dos leitões. A susceptibilidade à doença também é aumentada devido ao quadro de estresse, afetando respostas celulares e humorais (Broom, 1991). Dessa forma, condições como o reagrupamento de lotes podem trazer consequências na função imunológica do animal.

A União Européia (UE) se destaca na adoção de medidas relacionadas ao BEA, aprovando leis rigorosas referentes à suinocultura (Molento, 2005) cujo prazo para adaptação foi até 31 de dezembro de 2012. Dentre as medidas adotadas, o uso de compartimentos individuais para matrizes na maternidade foi proibido, as “gaiolas” são consideradas práticas que causam sofrimento desnecessário aos animais. Os Estados Unidos reagiram menos a este movimento, mesmo assim alguns aspectos tem avançado (Quadro 1). O principal fator limitador para o rápido avanço da produção contemplando os conceitos de BEA é o custo. O Brasil está longe de adotar as medidas europeias, porém, deve-se preparar para atender seus mercados. Para melhor compreendimento das diferenças entre os sistemas de produção e legislação alguns países, segue o quadro abaixo (Quadro 1):


Quadro 1. Diferenças entre produção em diferentes países de acordo com o BEA.

No intuito de reduzir os efeitos adversos sobre o BEA na produção de suínos, a Ourofino dispõe do Maxicam (Figura 1), um produto à base de Meloxican, um potente anti-inflamatório não esteroidal (AINES) seletivo que possui uma ação, anti-inflamatória, antipirética, analgésica, e antiexsudativa. Esta última função, é um dos grandes diferenciais desta molécula, uma vez que o Maxicam age seletivamente em um único sítio de ligação (COX2), responsável pelo desencadeamento do processo inflamatório, não agindo no sítio responsável pela proteção de mucosa gástrica (COX1). Por esse motivo, sua utilização pode ser de médio a longo prazo, não causando efeito gastrolesivo ou ulcerogênico. Sua função analgésica foi provada em diversos trabalhos, sendo, atualmente, o principio de eleição para a realização de manejos em leitões como a castração, corte de cauda e corte de dentes. Além disso, tem indicação para problemas locomotores e muscoesqueléticos, e no tratamento de Síndrome MMA em fêmeas lactantes. Sua dosagem é a de 1 ml a cada 50 kg de peso vivo.


Figura1. Maxicam 2%.

A pressão social já cobra do Brasil um posicionamento do setor quanto ao bem-estar e a rastreabilidade dos animais, portanto, o país deve deixar claro sua posição visto o interesse dos produtores em ampliar os mercados mais exigentes, tais como, China, Estados Unidos e a União Européia. Para tal, há a necessidade de políticas coerentes que permitam uma produção economicamente viável e ao mesmo tempo eficiente aos novos desafios impostos.

 

Referências:

BROOM, D. M. Animal welfare: concepts and measurements. Journal of Animal Science, Savoy, v. 69, p. 4167-4175,1991.  BROOM, D.M.; FRASER, A.F. Comportamento e bem-estar de animais domésticos. 4.ed. Barueri: Manole, 2010. 438p. BROOM, D. M; MOLENTO C. F. M. Bem-estar animal: conceito e questões relacionadas - revisão. Archives of Veterinary Science, Curitiba, v.9, p.1-11, 2004.

FRASER, D. ; DUNCAN, I. J. ; EDWARDS, S. A. ; GRANDIN, T., GREGORY, N. G. et al. General Principles for the welfare of animals in production systems: The underlying science and its application. The Veterinary Journal. Elsevier: 2013

GRANDIN, T.;  JOHNSON,  C.   O  bem-estar  dos  animais  – Proposta  de  uma  vida  melhor  para  todos  os  bichos.   São Paulo:  Rocco,  2010.   334p

LUDTKE, C. B.; SILVEIRA, E. T. F.; BERTOLONI, W. ANDRADE, J.C.; BUZELLI, M.L.; BESSA, L.R.; SOARES, G.J.D. Bem-estar e qualidade de carne de suínos submetidos a diferentes técnicas de manejo pré-abate. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.11, n.1, p. 231-241, jan./mar., 2010.

MOLENTO, C.F.M. Bem-estar e Produção Animal: Aspectos Econômicos – Revisão Archives of Veterinary Science, v. 10, n.1, p. 1-11, 2005.

Rauw WM, Kanis E, Noordhuizen-Stassen EN, Grommers FJ (1998) Undesirable side effects of selection for high production efficiency in farm animals: a review. Livestock Production Science 56, 15-33

Juliana Guerra Pinheiro e Andrea Panzardi

Equipe Aves e Suínos Ourofino

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