Artigos - Condição anovulatória em vacas leiteiras

26 mai 2014

Condição anovulatória em vacas leiteiras

A condição anovulatória é uma patologia comumente observada em rebanhos leiteiros no período pós-parto. Tal patologia é caracterizada pelo crescimento folicular, no entanto sem ocorrer a ovulação, resultando em um aumento do intervalo parto-concepção e, consequentemente, do intervalo entre partos, trazendo grandes prejuízos para a atividade leiteira por comprometer a eficiência reprodutiva do rebanho. De acordo com Wiltbank et al. (2002), a condição anovulatória pode ser dividida em diversas categorias de acordo com a evolução  do quadro, sendo as duas mais frequentes  o anestro pós-parto e o cisto folicular.

O anestro pós-parto é uma condição fisiológica que envolve o período necessário para que ocorra a involução uterina e o restabelecimento das condições normais para a reprodução, compreendendo o período do parto até a manifestação do primeiro cio fértil (Yavas & Walton, 2000). A sua duração é influenciada por alguns fatores, dentre eles, podemos destacar alguns de maior importância para fêmeas leiteiras, como: estado nutricional pré e pós-parto, balanço energético negativo (BEN), involução uterina, produção leiteira, número de parições e problemas relacionados ao momento do parto (El et al., 1995 e Beam & Butler, 1997).  

A segunda condição anovulatória comumente observada em vacas leiteiras é o cisto folicular. De acordo com Garverick (1997) de 6 a 19% das vacas em lactação são acometidas por esta patologia. Estudos mostram que por algum motivo ocorre um bloqueio na liberação de LH (hormônio responsável pela ovulação), consequentemente, não ocorre ovulação e o folículo pré-ovulatório permanece presente no ovário, caracterizando o cisto folicular. Neste sentido, acredita-se que o bloqueio da liberação do LH pode ser causado por alterações nos níveis de outros dois hormônios, o estradiol (quando esse estiver presente em excesso) e a progesterona (quando os níveis forem muito baixos ou ausentes), além de fatores ambientais, como por exemplo: estresse por alteração do ambiente, estresse térmico e o desequilíbrio nutricionais.

Tendo em vista que ambas as condições anovulatórias trazem prejuízos para atividade leiteira, o tratamento se torna fundamental para reduzir tais perdas. Assim, diversos protocolos hormonais têm sido desenvolvidos. No entanto, os protocolos que associam o uso de implantes de progesterona ao uso do GnRH têm mostrado os melhores resultados, independente do tipo de condição anovulatória. No estudo desenvolvido por Pursley et al. (2001), foi demostrado que vacas lactantes em anestro que receberam o protocolo Ovsynch com implante de progesterona apresentaram maiores taxas de prenhez (55%) do que vacas que receberam apenas o protocolo Ovsynch tradicional, sem implante de progesterona (34,7%). Levando em consideração o tratamento de cisto folicular, alguns estudos mostraram existir resposta dose-dependente ao GnRH, ou seja, doses de GnRH maiores são mais eficazes no tratamento de vacas císticas (Bierschwal et al. 1975). No entanto, a associação do implante de progesterona ao GnRH também melhora os resultados. Foi mostrado por Gümen e Wiltbank (2002) que o uso de implantes de progesterona associado ao GnRH faz com que as vacas císticas retornem a ciclicidade.

Assim, tanto para anestro como para tratamento de cistos foliculares acredita-se que o protocolo de IATF seja o tratamento de eleição para fêmeas em lactação. Mais especificamente, para os casos de cistos foliculares existem duas opções de tratamento, sendo elas: aplicação de uma dose dupla de GnRH (em um único tratamento) ou protocolo de IATF à base de implante de progesterona e GnRH, conforme demonstrado na figura abaixo (Figura 1).


Figura 1. Esquema demonstrativo de um protocolo de IATF à base de Sincrogest e Sincroforte indicado para o tratamento de cisto folicular de fêmeas em lactação.

 

Referências

BEAM, S.W.; BUTLER, W.R. 1997. Energy balance and ovarian follicle development prior to the first ovulation post-partum in dairy cows receiving three levels of dietary fat. Biology of Reproduction, 56:133–142.

BIERSCHWAL, C.J.; GARVERICK, H.A.; MARTIN, C.E.; YOUNGQUIST, R.S.; CANTLEY, T.C.; BROWN, M.D. 1975. Clinical response of dairy cows with ovarian cysts to GnRH. Journal of Animal Science, v. 41, p.1660-1665.

BUTLER, W.R. 2000. Nutritional interactions with reproductive performance in dairy cattle. Animal Reproduction Science, 60:449–457.

BUTLER, W.R. 2003. Energy balance relationships with follicular development, ovulation and fertility in postpartum dairy cows. Livestock Production Science, 83:211–218.

EL, A.; ZAIN, D.; NAKAO, T.; RAOUF, M.A.; MORIYOSH, M.; KAWATA, K.; MORITSU, Y. 1995. Factors in the resumption of ovarian activity and uterine involution in postpartum dairy cows. Animal Reproduction Science, 38:203-214.

GARVERICK, H.A. 1997. Ovarian follicular cysts in dairy cows. Journal of Dairy Science, v.80, p.995-1004.

GUMEN, A. and WILTBANK, M.C. 2002. An alteration in the hypothalamic action of estradiol due to lack of progesterone exposure can cause follicular cysts in cattle. Biology of reproduction, v.66, p.1689–1695.

PURSLEY, J.R.; FRICKE, P.M.; GARVERICK, H.A.; KESLER, D.J.; OTTOBRE, J.S.; STEVENSON, J.S.; WILTBANK, M.C. NC-1 13 Regional Research Project. Improved fertility in noncycling lactating dairy cows treated with exogenous progesterone during Ovsynch. Midwest Branch ADSA 2001 Meeting, Des Moines, IA; 63 abstract.

WILTBANK, M.C.; GÜMEN, A.; SARTORI, R. 2002. Physiological classification of anovulatory conditions in cattle Theriogenology, v. 57, p. 21-52.

YAVAS, Y.; WALTON, J. S. 2000. Postpartum acyclicity in suckled beef cows: a review. Theriogenology, v. 54, p. 25-55.

 

Michele Bastos

Especialista em Reprodução Animal no Departamento Técnico da Ourofino Agronegócio

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