15 abr 2013

Infecção por Brachyspira spp. em suínos - aspectos atuais no controle e tratamento desta doença emergente

Infecções bacterianas intestinais, cursando com diarréia, causam algumas das doenças mais importantes para a produção de suínos no mundo inteiro. São afetados animais de praticamente todas as idades, mas nas fases de crescimento e terminação (60 a 180 dias de idade) os quadros clínicos têm sido bem menos estudados. Especificamente na fase de crescimento (60 a 95 dias de idade), os quadros mais comuns são as decorrentes de infecções no ceco e cólon com Brachyspira (anteriormente Serpulina) hyodysenteriae, outras espécies de Brachyspira, Clostridium perfringens tipo A, Yersinia pseudotuberculosis e a infecção do íleo com uma bactéria intracelular, Lawsonia (L.) intracellularis. Bactérias do gênero Brachyspira são comensais do intestino grosso de várias espécies animais e do homem. Em suínos, duas espécies são consideradas patogênicas: Brachyspira hyodysenteriae, que causa uma diarreia mucohemorrágica severa conhecida como “Disenteria suína”; e Brachyspira pilosicoli, que causa uma diarreia mucóide de baixa gravidade, não hemorrágica, conhecida como “Colite espiroquetal suína”. Os dois agentes tem sido descritos em todo o mundo e, no Brasil, vários estudos demonstraram a relação entre a infecção com a bactéria e perdas em rebanhos de crescimento e terminação. Na década de 1990 a incidência de doenças ligadas à espécies patogênicas do gênero Brachyspira em suínos diminuiu, porém, a detecção desses agentes tem aumentado recentemente. Esse ressurgimento pode estar relacionado ao desenvolvimento de resistência à antibióticos ou diminuição do uso de antimicrobianos nas dietas suínas. A B. hyodysenteriae e a B. pilosicoli, apresentam morbidade de 37% e 90%, respectivamente, e mortalidade, nos casos de Disenteria Suína, de até 30%. A Colite Espiroquetal não é caracterizada por taxas de mortalidades expressivas no rebanho. No Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, em um estudo de prevalência com enteropatógenos em suínos de recria e terminação, não foi encontrado no estado de Minas Gerais rebanho positivo para B. hyodysenteriae entre 2008 e 2009 e apenas 2 rebanhos positivos para B. pilosicoli no mesmo período. Segundo revisão bibliográfica recente, foram detectados cinco surtos, sendo que, três ocorreram no estado de Minas Gerais, um em São Paulo e outro no Paraná. Isto reflete um aumento preocupante de casos dessa enfermidade. Disenteria Suína

A Disenteria suína é uma enfermidade que cursa com uma colite muco-hemorrágica grave e ocorre principalmente em suínos nas fases de recria e terminação, sendo menos comum em leitões desmamados. Embora a apresentação clínica seja bastante variável quanto a gravidade, essa doença é um dos mais significativos limitantes da produção suína, pois pode causar morte de leitões acometidos, redução da taxa de crescimento, piora na conversão alimentar, e despesas com diagnóstico e tratamento.

Figura 2 A e B: Diarreia com sangue e muco de suíno infectado com Brachyspira hyodysenteriae. Fotos cedidas pelo Prof. David Barcellos.

  Colite Espiroquetal A Colite Espiroquetal, caracteriza-se por colite moderada acompanhada de diarreia mucóide com característica de "cimento fresco". Os suínos acometidos apresentam atraso no ganho de peso e desuniformidade de lote. A infecção cursa com colite e diarréia e ocorre com maior freqüência entre 60 a 85 dias de idade, uma a duas semanas após o reagrupamento dos animais por ocasião do deslocamento entre as instalações de creche e crescimentodo. As manifestações clínicas da Colite Espiroquetal tendem a ser transitórias e tipicamente se resolvem em 7 a 10 dias.

Figura 3: Diarreia com presença de muco em suíno infectado com Brachyspira pilosicoli. Foto cedida pelo Prof. David Barcellos.

Diagnóstico O diagnóstico clínico das duas formas de infecção é complicado, pois várias outras doenças similares à Disenteria suína e Colite espiroquetal podem ocorrer em leitões na idade em que essas doenças são mais prevalentes. Em função disto, o diagnóstico laboratorial se tornou um item de grande importância para pesquisa em relação aos agentes. O diagnóstico é complicado pelo fato de que as Brachyspira spp. são muito fastidiosas no crescimento “in vitro” e, por isto, técnicas moleculares e de imunohistoquímica representam ferramentas muito importantes para o diagnóstico das doenças entéricas causadas pelos agentes. Controle Até o momento, não foram desenvolvidas vacinas eficientes para o controle das infecções pela B. pilosicoli ou pela B. hyodysenteriae. Os animais doentes podem ser tratados com antimicrobianos fornecidos através da ração ou pela água. De maneira geral, as Brachyspira spp. tendem a apresentar boa resposta à terapia com antimicrobianos como aivlosina, bacitracina, josamicina, lincomicina, tetraciclinas, tiamulina, tilmicosina, tilosina, valnemulina e virginiamicina. Entretanto, já foram descritos casos de resistência a vários entre esses compostos, indicando a necessidade de orientação e acompanhamento veterinário da terapia. Estudos recentes em diversos países demonstram que a resistência aos antimicrobianos utilizados para o tratamento da infecção por B. hyodysenteriae e B. pilosicoli é um problema crescente. O que pode estar realcionado com o ressurgimento de doenças associadas à Brachyspira sp. Relatos publicados da Europa descrevem um elevado nível de resistência da Brachyspira sp. aos antimicrobianos. A perda de eficácia clínica destas drogas cria um risco potencial de propagação de cepas resistentes, com o surgimento de clones com alto potencial patogênico. Embora as informações a respeito da sensibilidade antimicrobiana da B. pilosicoli sejam limitadas, são citados baixos valores de MIC para a tiamulina, valnemulina, carbadox e a lincomicina. O carbadox demonstra valores de MIC satisfatórios, no entanto, apesar de seus atributos de prevenção, o seu uso é permitido em poucos países, sendo que no Brasil é proibido. Testes de susceptibilidade da doxiciclina e tilvalosina para isolados de B. hyodysenteriae revelaram boas respostas in vitro para este agente. Uso de Doxifin (Doxiciclina) 50 PS pode aumentar a eficácia no tratamento Em um trabalho que determinou a sensibilidade bacteriana de 49 isolados de B. hyodysenteriae, 36 (73%) foram classificadas como sensíveis, 13 (27%) como intermediárias, e somente nove cepas foram resistentes à doxiciclina. A concentração inibitória mínima obtida foi de MIC50 (1.0 µg/ml) e MIC90 (4.0 µg/ml). Este trabalho sugere que o uso associado da Doxiciclina e de Pleuromutilinas, pode melhorar a eficácia do tratamento para a disenteria suína. Apesar de sua importância clínica, não existem dados sobre a sensibilidade antimicrobiana de isolados brasileiros das Brachyspira sp. Neste caso, são determinadas as diretrizes do uso de antimicrobianos para o tratamento e controle da Disenteria Suína e Colite Espiroquetal, baseadas na literatura internacional (Guedes, 2010). A ausência de trabalhos com isolados brasileiros para quantificação da resposta da Brachyspira sp. nos testes de MIC revela a necessidade de pesquisas nacionais para padronização do mesmo e possível visualização da situação atual no que diz respeito ao comportamento dessas bactérias e padrões de resistência que podem ser desencadeadas. Segundo o Dr. David Barcellos, seguem abaixo algumas medidas que podem auxiliar o tratamento e controle da infecção: Numa baia, devem ser medicados todos os animais doentes e não apenas aqueles com diarréia. Devem também ser tratados os lotes das baias adjacentes. Todas as medidas de manejo capazes de reduzir a contaminação fecal/ oral, como a retirada periódica das fezes do piso das baias, podem diminuir a pressão infectante e auxiliar no controle de surtos da colite espiroquetal e disenteria suína. Outras medidas de importância para o controle e/ou prevenção da infecção incluem: - Fornecer água limpa e abundante; - Manter os animais num piso com pouca umidade e num ambiente na faixa de conforto térmico; - Controlar vetores, como ratos, camundongos e moscas; - Minimizar o “stress“, principalmente nas fases de transporte e de alojamento dos leitões; - Utilizar um programa de medicação profilático na primeira semana após a transferência para as recrias e/ou terminações; - Utilizar um programa de desinfecção eficiente; - Utilizar sistema de manejo do tipo “all in - all out”; - Adotar cuidados para garantir a compra de animais de reposição a partir de plantéis livres; - Povoar instalações de recria ou terminação com animais de apenas uma origem e da mesma idade Com isso, é reduzido o risco de que animais portadores venham a infectar outros que não tenham tido prévia exposição ao agente (não imunes). Alguns fatores importantes para interromper a cadeia infecciosa são: - Ao manejar os animais doentes, usar equipamentos e vestuário exclusivos (principalmente botas). A finalidade é a de evitar a difusão horizontal da infecção entre baias alojando leitões doentes e as adjacentes; - Usar formas de eliminação de carcaças que não tragam riscos de difusão de infecções; - O contato dos animais com o conteúdo de canaletas de dejetos e/ou lâminas de água que fluam de maneira contínua entre diferentes baias cria uma fonte importante e não controlável de difusão de patógenos. Algumas possíveis alternativas para os leitões doentes que não responderem à medicação são: - separar dos animais sadios e tratar agressivamente com drogas antimicrobianas por via parenteral; - os animais cronicamente infectados devem ser sacrificados ou remetidos ao abate. Com relação à profilaxia, é muito importante realizar uma quarentena antes de introduzir animais em plantéis livres, adotando um programa permanente de monitoramento para os animais de reposição.   Por Brenda Marques, departamento de Aves e Suínos Ourofino.

Tags

Newsletter

Cadastre seu e-mail e receba nossa newsletter.


Deixe o seu comentário