10 jan 2012

Parasitas internos que acometem os cães e o que eles causam

Os populares “vermes” dos cães, também chamados de helmintos ou simplesmente parasitas internos, têm grande importância para a saúde pública devido ao alto potencial de causar doenças em humanos, as chamadas zoonoses. Os vermes que comumente infectam os cães são o Toxocara canis, o Ancylostoma caninum e o Dipylidium caninum. De acordo com sua morfologia (forma) os helmintos acima citados foram divididos em diferentes filos (divisão evolutiva de animais e vegetais). O Ancylostoma caninum e o Toxocaracanis pertencem ao filo Nemathelminthes e à classe Nematoda e por isto são denominados de nematódeos ou nematóides. Os parasitas pertencentes a este filo apresentam corpo cilíndrico, alongado e não-segmentado, popularmente são conhecidos como “vermes redondos”. Esta é a classe de maior destaque entre os helmintos devido a sua patogenicidade e ampla distribuição geográfica. Já o Dipylidium caninum pertence ao filo Platyhelminthes e a classe Cestoda, sendo denominados de cestódeos ou vulgarmente conhecidos como “vermes chatos”, os parasitas desta classe apresentam corpo achatado e segmentado com aspecto semelhante a uma fita. Basicamente, os helmintos provocam perda de peso, crescimento tardio e tornam os indivíduos infectados predispostos a outras doenças, devido à menor absorção e digestão de nutrientes, interferências do fluxo de alimentos, lesões teciduais, perda de sangue e de proteínas e bloqueio da passagem do ar, alterando, desta forma, as funções orgânicas do hospedeiro. Há um equilíbrio dinâmico entre o sistema imunológico dos vertebrados e as estratégias desenvolvidas pelos parasitos para “burlarem” as defesas do hospedeiro contra eles. Em cães, a prevalência de verminoses gastrintestinais é elevada, sendo que os mais jovens são mais suscetíveis e apresentam manifestações clínicas mais graves. Cães com parasitoses gastrintestinais sofrem ação irritante e espoliativa dos helmintos causando anorexia, diarreia, vômito e retardo no crescimento, além de levarem o organismo a um quadro de imunossupressão que contribui para o aparecimento de processos de natureza infecciosa de origem bacteriana e viral. O Toxocara canis, além de sua importância veterinária, é responsável por uma zoonose conhecida como Larva migrans visceral. Animais parasitados eliminam os ovos do verme no ambiente através das fezes, esses ovos em condições favoráveis evoluem, surgindo a larva infectante. Os cães se infestam pela ingestão do ovo com a larva (ovo larvado). Em cadelas prenhes infectadas pode acontecer infecção pré-natal, as larvas adquirem mobilidade três semanas antes do parto, vão para o pulmão dos fetos onde evoluem para outro estágio antes do nascimento. Nos recém-nascidos o parasita completa seu ciclo e vão para o intestino através da traqueia. Cães em fase de lactação podem infectar-se ao ingerirem larvas durante as três primeiras semanas de vida, neste caso as larvas vão direto para o intestino.  Outra forma dos cães se infectarem com este parasita é através da ingestão de hospedeiros paratênicos (hospedeiros de transporte) que podem ser roedores ou aves que ingerem os ovos infectantes; nestes as larvas vão para os tecidos onde ficam até estes hospedeiros serem ingeridos pelos cães (hospedeiros definitivos). Os animais parasitados com T. canis apresentam como sinais clínicos diarreia, desconforto abdominal, vocalização (“lamúrias”), abdômen distendido (aspecto “barrigudo”), pelagem sem força, desidratação e retardo no crescimento, o óbito pode acontecer em decorrência de obstrução intestinal, intussuscepção (invaginação de uma porção do aparelho gastrointestinal sobre a luz da porção adjacente) ou perfuração intestinal. Em cães com idade inferior a seis meses tosse e taquipneia (aceleração do ritmo respiratório) também são observadas. A infecção por Ancylostoma caninum, outro gênero de nematódeo, comumente é encontrada em cães. Quando o diagnóstico e tratamento são feitos tardiamente as taxas de mortalidade tendem a ser elevadas. A extensão da agressão desses helmintos ao organismo animal é determinada pela virulência e pelo número de parasitas. Assim como o Toxocara canis, parasitas de diversas espécies do gênero Ancylostoma spp. causam em humanos uma zoonose conhecida como Larva migrans cutânea, popularmente chamada de bicho geográfico. Parasitas deste gênero podem ser transmitidos através das vias feco-oral (contato com fezes de animais parasitados), percutânea (penetração das larvas através da pele), transmamária (através da lactação) e transplacentária (através da gestação). Cães parasitados por A. caninum apresentam diarreia de cor escura (melena) ou sanguinolenta, palidez, fraqueza, emagrecimento extremo (emaciação) e desidratação. Em animais jovens a infecção resulta em enterite grave e perda sanguínea. Outro importante parasita de cães é o Dipylidium caninum.  Estes, na maioria das vezes, não causam lesões graves nos cães, mas tem importância relacionada à saúde pública por transmitirem aos homens doenças como a cisticercose e a hidatidose. A transmissão deste parasita aos cães é feita através de pulgas e piolhos (hospedeiros intermediários). Os ovos de Dipylidium sp. presentes em ambiente com alta infestação de pulgas são passíveis de serem ingeridos pelas larvas destes vetores. Após a ingestão do ovo, uma larva é liberada no intestino da larva da pulga, a mesma penetra pela parede intestinal atingindo a cavidade oral onde se desenvolve em uma larva denominada cisticercóide. A larva da pulga se desenvolve em pulga adulta, a qual abriga a cisticercóide infectante. O cão (hospedeiro definitivo) infecta-se ao ingerir a pulga adulta contaminada. Em cães infectados o D. caninum pode causar prurido anal. Estes animais parasitados liberam, em suas vezes, estruturas que contem vários ovos do verme, tais estruturas são denominadas “proglótides” e as mesmas liberam os ovos do parasita no ambiente. Em ocasiões raras estas estruturas podem ser visualizadas na região perianal dos cães. As “proglótides” possuem aspecto de grãos de arroz e apresentam motilidade, muitas vezes são confundidas como parasita e causam prurido na região perianal. Devido ao prurido os cães parasitados apresentam comportamento de andar sentado, esfregando a região no chão principalmente após defecação. Quando há um pequeno número de parasitas no animal o estado de saúde do cão não sofre alteração, porém se a infecção for causada por um grande número ocorre inflamação da mucosa intestinal, diarreia, cólica, alteração do apetite e emagrecimento excessivo. Em infecções maciças pode existir intussuscepção e obstrução intestinal. O diagnóstico das parasitoses acima citadas é realizado, em sua maioria, através de exame de fezes chamado de coproparasitológico, além de verificação do histórico do animal e exame físico para detecção de sinais clínicos característicos.  No caso de parasitoses por D. caninum o diagnóstico pode ser confirmado através da visualização das “proglótides” nas fezes. Tanto o tratamento quanto a profilaxia destas verminoses são realizados com administração de anti-helmínticos de amplo espectro. A prevenção dessas e de outras verminoses são realizadas com a adoção de medidas profiláticas tais como: correta higienização do ambiente e dos utensílios de fornecimento de água e alimento, canis devem ser construídos com padrões adequados para melhor higienização além de remoção e destino adequado as fezes. Como prevenção ao Dipylidium caninum é ideal o combate aos hospedeiros intermediários (pulgas e piolhos), no caso do Ancylostoma caninum é interessante banhar os animais que tiveram contato com outros ambientes como, por exemplo, praças a fim de prevenir infecção pela via cutânea.  Para a prevenção de infecção por T. canis é imprescindível o conhecimento de que os ovos deste helminto são resistentes a ação de produtos químicos, mas perdem sua viabilidade quando submetidos a raios ultravioletas e latas temperaturas dessa forma os canis devem ser projetados de tal maneira que as fezes fiquem expostas ao sol durante a maior parte do dia, outra medida importante no combate a este verme é o combate a aves e roedores que funcionam como hospedeiros de transporte. A fim de se evitar a transmissão transplacentária de parasitas é indispensável a vermifugação da fêmea prenhe e/ou antes da cobertura de acordo com critério do Medico Veterinário responsável. Como prevenção da transmissão através da lactação é aconselhável vermifugação após o parto de acordo com a prescrição veterinária. Em canis ou áreas endêmicas é importante o estabelecimento por parte do Médico Veterinário de um programa de controle de parasitas baseado em exames coproparasitológicos e vermifugações constantes. Por Mariana Castelhano Diniz, Médica Veterinária e Assistente Técnica da Ourofino Saúde Animal.

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