23 jan 2012

Presynch: é possível deixá-lo mais prático?

No artigo passado apresentamos o efeito do protocolo de pré-sincronização (Presynch) na taxa geral de prenhez de vacas submetidas ao tratamento com protocolo Ovsynch. Neste estudo foi possível notar que, quando o Presynch foi utilizado, maior número de animais iniciaram o protocolo Ovsynch com alto nível de progesterona (> 2.5 ng/ml), mostrando a eficiência da pré-sincronização. Sabe-se que os animais que apresentam alto nível de progesterona no inicio do protocolo são animais que apresentam CL neste dia e que o nível de progesterona pode ter efeito no desenvolvimento saudável do folículo.

Ao empregar um programa reprodutivo com pré-sincronização, ao menos dois manejos extras são adicionados para cada animal (duas aplicações de PGF2α). Porém, o aumento da taxa de prenhez observado com o uso da pré-sincronização pode justificar o trabalho necessário para administrar os tratamentos adicionais de PGF2α, e é a principal vantagem de sua aplicação na primeira IATF pós-parto.

Uma vez demonstrada a importância da utilização do Presynch, questionamentos acerca da praticidade de sua aplicação na rotina das propriedades passaram a ser levantados e ajustes desse protocolo foram propostos. Um ponto questionado foi a necessidade de manter-se exatamente o intervalo de 12 dias entre segunda PGF2α do Presynch e a primeira aplicação de GnRH do Ovsynch. Desse questionamento surgiu a proposta de prolongar esse intervalo para 14 dias (dois dias a mais), pois assim as 4 primeiras injeções dos protocolos (as duas PGF2α do Presynch e o primeiro GnRH e a PGF2α do Ovsynch) poderiam ser agendadas para o mesmo dia da semana, durante as semanas subsequentes. Esta é uma estratégia muito interessante, pois se estabelecendo dias da semana fixos para determinados tratamentos, minimiza-se o confundimento, facilita-se o manejo e otimiza-se os resultados. Esse novo protocolo permitiria que os produtores de leite pudessem montar um calendário semanal de sincronização, no qual grupos de vacas sempre fossem direcionados para iniciar o protocolo no mesmo dia da semana e, à medida que novos grupos entrassem nesse manejo, os dias de tratamento e hormônios utilizados nesses dias se manteriam os mesmos.

Ainda, este mesmo dia da semana pode ser instituído como o dia de diagnóstico de gestação, quando ele ocorre aos 32 (por ultrassonografia) ou 39 dias (por palpação retal) após a IA. Desta forma, os produtores ou gerentes das fazendas poderiam utilizar este dia para acompanhar o médico veterinário durante os diagnósticos de gestação e a administração de 80% dos fármacos (4 das 5 injeções do protocolo Presynch-Ovsynch ocorreriam no mesmo dia da semana). Esse esquema é muito utilizado em fazendas norte-americanas, uma vez que os proprietários costumam acompanhar o diagnóstico de gestação e aplicar eles mesmos a maior parte dos medicamentos. Outra possível vantagem de se manter a maior parte dos tratamentos e o diagnóstico de gestação em um mesmo dia da semana é a possibilidade de se instituir programas de ressincronização associados.

O esquema de calendário semanal e a organização da propriedade de acordo com o período pós-parto pode ser uma alternativa de manejo bastante apreciada (Tabela 1).

Tabela 1 – Exemplo de diagrama esquemático de trabalho em programas de semanais de sincronização da ovulação para inseminação artificial em tempo fixo utilizando a associação dos protocolos Presynch 14 dias e Ovsynch.  

 

Com base nessa prerrogativa, iremos apresentar os resultados do trabalho de Navanukraw e colaboradores (2004). Neste estudo foram utilizadas 269 vacas Holandesas distribuídas aleatoriamente para um dos dois tratamentos propostos: tratamento direto com Ovsynch (Ovsynch) vs Ovsynch precedido por Presynch 14 dias (Presynch 14d; Figura 1). Na distribuição dos animais foram respeitados a paridade (primíparas vs multíparas) e número de dias em lactação (DEL, 60-100 ou > 100 DEL), sendo que a média de DEL no início do tratamento foi de 99,6 ± 6,3 e 89,5 ± 5,8 dias para as vacas dos grupo Ovsynch e Presynch 14d, respectivamente.

Figura 1 – Diagrama esquemático dos protocolos de sincronização (Adaptado de Navanukraw et al., 2004). 

Neste estudo foram utilizadas tanto vacas de primeiro serviço, como as diagnosticadas vazias após serviço prévio. Os autores propõem que protocolos hormonais para IATF devem ser de prática implementação na operação do dia-a-dia de uma fazenda de gado leiteiro, caso contrário o mesmo poderá falhar devido à falta da aplicação de algum fármaco.  

Figura 2 - Taxa de prenhez de vacas Holandesas de acordo com o protocolo de sincronização da ovulação utilizado: Ovsynch ou Presynch 14d seguido de Ovsynch (a≠b, P<0,05; adaptado de Navanukraw et al., 2004).

O resultado deste experimento (Figura 2) suporta que o uso do protocolo Presynch modificado (Presynch 14d) aumenta a taxa de prenhez de vacas em lactação recebendo IATF em comparação com Ovsynch desacompanhado de pré-sincronização. Um possível mecanismo pelo qual o Presynch 14d pode melhorar a taxa de prenhez é por pré-sincronizar o dia do ciclo estral de modo que as vacas estejam na primeira injeção de Ovsynch em uma fase específica do ciclo, conforme explicado no artigo do mês passado. Ainda, acredita-se que o protocolo Presynch aumentada a taxa de sincronização, e este seja outro mecanismo que também deva contribuir para o efeito do Presynch.

Assim, podemos concluir que é possível alterar o protocolo Presynch original (12d) para poder adequá-lo ao calendário semanal de trabalho, sem perder o acréscimo na taxa de prenhez que este protocolo proporciona.  

 

Bibliografia:

C. Navanukraw, D. A. Redmer, L. P. Reynolds, J. D. Kirsch, A. T. Grazul-Bilska,1 and P. M. Fricke2 A Modified Presynchronization Protocol Improves Fertility to Timed Artificial Insemination in Lactating Dairy Cows. J. Dairy Sci. 87:1551–1557 Por Henderson Ayres e Roberta Machado Ferreira - Departamento de Reprodução Animal, FMVZ-USP

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