Artigos - Terminação Bovina

16 out 2014

Terminação Bovina

Entrevista sobre Terminação para Revista Produz com Thales Vechiatto, especialista técnico de bovinos da Ourofino Saúde Animal.

 

- Descreva todo o processo de terminação de bovinos a pasto.

Na maior parte do Brasil, o formato mais tradicional é a terminação a pasto. Tal processo ocorre entre os 3 e 4 anos,  quando o bovino atinge o peso de abate. Mas, para isso, deve-se otimizar os ganhos de peso no período das águas e na seca para evitar perda (o boi sanfona). Muitos pecuaristas recorrem ao uso de suplementação via cocho, garantindo assim a manutenção do peso alcançado nas chuvas ou ainda conseguindo ganhos singelos para dar continuidade progressiva no desenvolvimento do animal, para que chegue ao peso de abate o quanto antes. Após a desmama, os bovinos permanecem em sistema de pastagem continua ou rotacionado, passando por 1 ou 2 secas, na qual serão abatidos ao final das chuvas, entre os meses de março e maio.

- Para quais casos a terminação de bovinos a pasto é indicada?

A terminação a pasto ocorre em todo Brasil, porém tal sistema é realizado nas regiões onde não há disponibilidade abundante de grãos ou nos casos em que o preço da terra é baixo. Quando o custo da terra é baixo, o preço da arroba não é tão expressivo, então os pecuaristas se sentem menos pressionados a obterem rápido retorno sob o capital e, com isso, os animais podem ganhar peso a passos largos, não sendo forçados a terminarem cedo para obter um rápido retorno econômico frente ao investimento.

- Qual o efeito da terminação de bovinos a pasto no desempenho do rebanho?

Quando não é realizado nenhum tipo de suplementação, seja energética ou  principalmente proteica, é altíssima a facilidade de ocorrer o chamado “boi sanfona”, ou seja, aquele animal que ganha peso nas águas e perde na seca. Isso compromete demais o crescimento do bovino, fazendo com que ele chegue ao peso de abate com idade superior a 4 anos e atrasando o ciclo pecuário. A solução deste caso é simples: basta realizar um planejamento nutricional condizente com custo-benefício para ter um sistema sustentável sob o ponto de vista econômico. Na seca, normalmente são utilizados dois tipos de suplementação proteica: de baixo e alto consumo, sendo de 1g a 2g/kg animal. No entanto, pode-se optar pelo uso de um suplemento de baixo consumo enquanto  o “estoque de capim” estiver com aparência esverdeada. Quando houver somente macega, aquela palhada rica em folhas secas, o uso do suplemento de alto consumo é fundamental para manter o desempenho traçado. Se a reserva de pasto estiver apenas com talos, sem folhas secas, recomendo suplementar não somente com sal proteico, mas energético também.

- Quais as vantagens da terminação de bovinos a pasto?

Quando se opta por terminar animais a pasto e é criado um planejamento nutricional e econômico, a rentabilidade torna-se bastante interessante, pois o custo da arroba produzida normalmente se reduz e, com isso, há melhor retorno financeiro. O mercado demanda carnes macias e saborosas, ou seja, animais abatidos precocemente atingem tal necessidade. Entretanto, apenas com um bom planejamento é possível ter a demanda baseada na oportunidade.

- Quais os tipos de pastagens mais recomendadas para o processo? (Falar sobre as espécies forrageiras mais indicadas).

Não existe receita de bolo para o sucesso. A melhor pastagem eleita é aquela que se enquadra no sistema produtivo da fazenda e, na grande maioria de nosso território nacional, as braquiárias reinam absoluto. Porém, o plantio de forragens leguminosas ou com maior valor nutricional é fundamental para o desempenho animal condizente com a categoria envolvida. Um exemplo clássico é logo após a desmama, até os 18/24 meses, manter os animais em áreas cujo pasto pode ser Mombaça/tanzância/colonião, pois além de produzir uma quantidade boa de massa, seu valor nutricional quando manejado corretamente, respeitando altura de entrada e saída, traz ganhos interessantes para o processo. Depois disso, alocar os animais em áreas de “Braquiarinhas” ou “Braquiarão” para chegar até o peso de abate, já que tais forrageiras suportam melhor o pisoteio e também são indicadas para esta categoria animal. Mas, para plantio e manutenção das primeiras forrageiras, a relação custo-investimento deve estar na ponta do lápis, pois são mais exigentes quanto a adubação e fertilidade do solo.

- Como é feito o manejo do gado? (Falar sobre cuidados nutricionais/suplementação e cuidados sanitários)

Não adianta realizar apenas um bom fornecimento de capim ou suplementação animal se os cuidados sanitários não estiverem em dia. O custo médio Brasil, segundo dados nacionais, é em torno de até 3% do investimento com todo processo. É extremamente baixo quando comparado aos demais, principalmente frente aos prejuízos que os endo e ectoparasitas trazem à pecuária nacional. Um bovino infestado de mosca-dos-chifres, carrapatos, bernes e vermes internos, podem atrasar o desempenho dos animais e, com isso, estender a idade ao abate. Logo as chuvas retornam e todos os riscos parasitários voltam, principalmente os carrapatos, um dos principais inimigos de qualquer fazenda. É importante não esperar que tal inimigo apareça e já planejar uma estratégia de combate, não apenas a este parasita, mas para qualquer empecilho que possa vir a comprometer o desempenho e produtividade dos animais.

- Qual a viabilidade econômica da terminação a pasto?

Dados atualizados do CEPEA mostram que houve aumento de rentabilidade do pecuarista pantaneiro em relação ao COE de R$ 2,36 e R$ 1,34 (COT), para cada real gasto na pecuária de corte. Todos os custos, desde a compra, manutenção, nutrição e sanitário (cerca de 75% de todos os custos produtivos de uma propriedade), devem estar na ponta do lápis quando se fala em terminação a pasto. Estamos sujeitos às variações climáticas, comprometendo todo o crescimento forrageiro, e, se não houver um plano B - suplementação nutricional -, o retorno econômico pode acabar, assim como as pastagens, e comprometer toda produtividade da fazenda.

Revista Produz

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